sexta-feira, 18 de junho de 2010

BRASÍLIA: planejamento, preservação e participação.

Antonio Carlos Carpintero
A superquadra é o elemento mais característico do plano piloto de Lúcio Costa para Brasília. Num quadrado de 300m de lado, 15 edifícios residenciais sobre pilotis - colunas que mantém o térreo livre - mantendo o uso público de todo o solo, com jardim de infância e escola para as crianças menores. Ao redor uma faixa arborizada de 20m, e nos interstícios entre uma e outra, via de acesso local, comércio local, igreja, escola complementar, creche, biblioteca, quadras esportivas públicas, posto de saúde, posto policial, correio, cinema, supermercado, ou seja todos os equipamentos necessários a vida diária. Lúcio Costa sugeriu o gabarito uniforme de 6 pavimentos.
A superquadra seria a forma usual de moradia em toda a cidade e, é claro, em suas expansões. E poderia tomar formas diversas desde que mantivesse a livre circulação no solo mantido público, uma certa densidade e o acesso ao sol, ao vento, a paisagem e aos equipamentos urbanos para todos os moradores. Foi o próprio Lúcio Costa quem projetou as quadras 400, econômicas, com 16 blocos de 3 pavimentos, sem pilotis nem elevadores, mas com todos os equipamentos urbanos, de modo a permitir a moradia de uma população de menor renda, sem perda da qualidade de vida urbana. Essa era a essência do projeto de Brasília. Isto é o que foi considerado patrimônio da humanidade.
O assentamento de uma população de cerca de 12.000 pessoas dispondo, num raio de, no máximo, um quilômetro todos os equipamentos urbanos que necessita, com uma densidade de ocupação condizente, e espaços livres para convívio, esporte e lazer para todos.
O plano, convocado no edital, era piloto. Reconhecia a precipitação de Juscelino, atropelando o planejamento regional. Lúcio Costa acentuou essa necessidade no preâmbulo de seu relatório. Para que a lei 1803/53 fosse cumprida e a cidade tivesse os, no máximo, 500.000 habitantes nela previstos seria necessário um planejamento cuidadoso prevendo empregos na etapa seguinte a construção. Isso não foi feito. A população mais pobre foi excluída das superquadras e alojadas ou removidas para lugares distantes, em terrenos as vezes impróprios, sem equipamentos, sem serviços básicos como saneamento.
A superquadra foi confinada ao bairro histórico da cidade, denominado plano piloto e a maioria da população instalada precariamente. É preciso proporcionar a todos os moradores do Distrito Federal a qualidade de vida da superquadra. Água, esgotos, águas pluviais, creches, escolas nos níveis básicos, áreas esportivas, áreas livres para o lazer, comércio local, posto de saúde, posto de polícia, correios, tudo isso a menos de 1000m da casa de cada morador. É preciso preservar a todos o direito a paisagem, ao horizonte de Brasília, as belezas do lugar.
.          Só assim estaremos de fato preservando o patrimônio cultural do povo brasileiro e da humanidade. Melhor ainda, estaremos preservando as pessoas, brasileiros e brasileiras que vivem e viverão em Brasília e que são o verdadeiro patrimônio.

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